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Sobre não saber empreender

Sobre não saber empreender
Khetlin Andrade
mar. 26 - 8 min de leitura
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Tenho 26 anos, nascido em uma pequena cidade de interior, sou o filho mais velho dentre 3 irmãos. Minha base educacional foi construída em uma escola de freiras ucranianas, onde estudei até por volta da antiga 6º série do ensino fundamental, logo após me mudei algumas vezes de cidade e outras tantas vezes de escola, estudei em escolas privadas, também frequentei algumas públicas, cheguei até a fazer um cursinho pré-vestibular para tentar ingressar na faculdade, que na época seria direito.

​É muito claro para mim hoje, quando olho para trás e me lembro de todas as fases escolares, das cidades e das experiências que vivi como um todo, que em nenhum momento somos preparados para empreender, na verdade todas essas etapas mais se parecem com uma linha de produção, com começo, meio e fim, em que o intuito é produzir, em larga escala, mais do mesmo produto: um produto social com funções pré-programadas para executarem um determinado algoritmo.

De um modo geral existem alguns modelos diferentes de algoritmo, mas que não alteram o produto final. Esse algoritmo basicamente me instrui a nascer e por um tempo devo obedecer aos padrões herdados geração após geração, de como me vestir, de como me comportar, como me alimentar, como tratar nossas mulheres (talvez o "nossa" usado na sentença anterior faça parte dessa herança, porque ainda achamos que são de nossa posse, sendo que ser humano nenhum deveria ter posse sobre o outro), até nosso time de futebol é escolhido por alguém da família. Em seguida nos é dito o que devemos estudar, e claro, são conteúdos importantes e necessários. O que quero dizer é que não são suficientes, pois aprendemos (de maneira insatisfatória) como escrever e fazer cálculos matemáticos, além de um pouco de história e um pouco de biologia e geografia, no entanto crescemos analfabetos políticos, sociais e econômicos. Aí vem o ensino médio, e a pressão para sabermos qual faculdade devemos fazer começa e nesse momento a bola de neve que iniciou lá atrás quando disseram para qual time você deveria torcer, já está bem grande e consequentemente os jovens não sabem o que gostam de fazer. Alguns até sabem do que não gostam, mas ainda assim precisam realizar o sonho dos pais e a faculdade então é escolhida.

O engraçado que nessa fase de vestibular, todos os testes de vocação profissional que eu conheci não tinham uma opção "empreender": você é condicionado a acreditar que precisa escolher um curso numa universidade e estudar para sair de lá funcionário, você escolhe um curso pensando no salário que vão te pagar, não me lembro de alguém falando sobre escolher um curso no qual você poderá gerar empregos e pagar bons salários para seus colaboradores, até mesmo a faculdade, que deveria criar pensadores, pessoas capazes de criar, exige estágio obrigatório. Curioso, não? Sem contar a enorme massa de concurseiros, onde alguns passam parte da vida se dedicando em passar em uma prova. Certa vez li uma frase, peço desculpas ao autor pois não me recordo seu nome, a frase dizia algo parecido com o seguinte: "Os gênios brasileiros usam toda sua genialidade para passar em um concurso público, os gênios pelo mundo usam sua genialidade para criar coisas que mudarão o planeta".

​E assim segue a nossa linha de montagem, entramos na faculdade, saímos da faculdade, alguns conseguem se colocar no mercado de trabalho na mesma área em que estudou, fazemos alguma pós-graduação, alguns cursos extras para nos mantermos competitivos. Devemos nos casar, tentar fazer algumas viagens enquanto vivos, termos filhos, comprar uma casa, ficarmos velhos e aguardar, enquanto lamentamos toda uma vida na qual a maior parte do tempo fomos controlados, a morte que não tarda a chegar.

​Quando devo empreender?

​E quando a hora chegar? Quando ela chega? Tem hora certa para isso? Existem várias pessoas fora da curva, e que mesmo com todo condicionamento imposto acabam se enveredando por caminhos menos desbravados.  Acontece que mesmo as que tentam fazer as coisas de forma diferente esbarram em uma série de desafios. Um deles, talvez o pior, é a falta de preparo no quesito inteligência emocional, esse é um desafio em qualquer área da vida, pois é mais um dos tópicos em que crescemos analfabetos, e que faz a maior parte das pessoas "baterem na trave" inúmeras vezes. Como empreendedor a inteligência emocional do indivíduo é posta à prova dia após dia, é a insegurança, a falta de dinheiro, família, pressão social, desencorajamento, questões políticas, fé e assim por diante. Eu poderia listar dezenas de termos que representariam todos esses fantasmas mas já deu para entender que empreender é, antes de construir uma empresa de sucesso ou uma grande corporação, construir e criar uma nova pessoa, uma pessoa de alta performance, totalmente motivada e motivadora, mas principalmente motivada. Um perfil que não dependa de meios externos para inflamar seu espírito e te pôr para frente, te dar gás novo a todo o momento. Saber lidar com esses altos e baixos vai ser um dos pilares do seu sucesso como empreendedor.

​Em 2016 fiz um curso oferecido pelo SEBRAE, chamado EMPRETEC, e uma das coisas mais ricas que aprendi lá é que empreender não está diretamente relacionado com ser empresário. Empresário é o dono de empresa, o empreendedor não necessariamente é dono de uma. Empreender está relacionado a estilo de vida, é dar o seu melhor em qualquer coisa que tiver que fazer, não importa se você é o patrão ou o empregado, nem se você é pai ou filho, solteiro, namorando ou casado. Seu sucesso como pessoa vai depender do amor com que você faz as coisas e empreender pode se resumir a isso, faça o melhor que puder em tudo que for fazer, e acredito que foi isso que Steve Jobs quis dizer quando proferiu a seguinte frase: "Stay hungry, stay foolish".

​Talvez não exista a hora certa, provavelmente nunca estaremos preparados de fato, tudo é um processo e estamos a todo o momento em desenvolvimento, aprendendo. Nascemos intelectualmente zerados e vamos nos moldando no decorrer da vida, nenhum molde é fixo e podemos a todo momento mudar, remodelar, a hora é sempre agora, um dos maiores empresários da China disse em uma entrevista que um dos motivos pelos quais  a China cresce tanto é que um dos o lemas deles é o "faça". Nem que seja para fazer uma  cópia, mas faça. Parece mais uma piada com os produtos chineses, mas não é. Essa é a fala de um dos donos da Tencent, o maior e mais utilizado portal chinês de serviços de internet.

​Concluo que de modo geral, como brasileiros e cidadãos, temos todo um longo caminho para percorrer e amadurecer, explorar novas ideias e desenvolver nossas habilidades. Somos um povo muito criativo e que sabe se virar bem, que corre atrás, somos bastante esforçados, contudo é importante que todo esse esforço seja bem empregado e de maneira inteligente, que nosso trabalho e dedicação venham a prover “valor”, acredito que o sentido de empreender está no valor que nosso trabalho agrega na vida do próximo, e torço muito para que tenhamos mais governantes empreendendo, mais professores empreendendo, alunos empreendendo, toda uma sociedade empreendendo e sendo participativa, criando estima no país, impulsionando o desenvolvimento e a prosperidade em todos os âmbitos de cada indivíduo.

 

Por: Jovem Empresário


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